Para empreender essa ausculta criamos objetos sensíveis, tecidos como emaranhados entre circuitos eletrônicos, bobinas de cobre, matéria orgânica e fones de ouvido. O engajamento com esses emaranhados pode atuar como uma espécie de encantaria ou contrafeitiço, já que esses objetos sensíveis de escuta/ fala apontam para formas de produção de conhecimento que ultrapassam binômios como natureza/cultura, mito/ciência, arte/técnica, entre outras dicotomias modernas que empobrecem a experiência complexa da linguagem em geral. Esse engajamento é capaz de fazer lembrar que, a despeito de toda brutalidade ecocida, epistemicida e semiocida experienciada nos territórios colonizados, muitas formas de sensibilidade resistem e sobrevivem na materialidade emaranhada de corpos e campos eletromagnéticos.
As inflorescências secas de palmeiras que emprestam forma a esses objetos sensíveis carregam memórias por nós desconhecidas e enredos por decifrar, e se tornam ferramentas ativas com as quais embalamos uma delicada dança que produz uma sonoridade particular. Atendendo a esse convite tecnoestético, invocamos a performatividade também da ferramenta na exploração sensível do território, embaralhando categorias como objeto técnico, objeto ritual ou object trouvée, orientados pela intuição e pela atenção à sutileza de variações vibracionais ao nosso redor.
Pergunte às Palmeiras pode ser afinal descrita como uma prática relacional que busca, através da criação de formas de escuta e escrita com fenômenos da natureza, inventar não apenas conceitos, mas sistemas de comunicação, com aparatos próprios. Como prática de proximidade interespecífica, propõe um diálogo especulativo entre diferentes formas de comunicação no espaço hertziano, de modo a produzir políticas de boa vizinhança entre humanos e não humanos.